A Construção do Método
Novos livros desvendam
o mito Constantin Stanislavski e reafirmam sua importância no desenvolvimento
do teatro moderno.
Por César Alves
Sobre Stanislavski e seu sistema, já foi dito
que, no Brasil, são mais comentados do que realmente estudados e postos em
prática. A razão disso, dizem os que defendem tal tese, seria o escasso
material em português de sua autoria disponível nas livrarias brasileiras.
Fato ou não, se a tradução dos escritos
teóricos produzidos por Constantin Stanislavski sobre seu método, disponíveis nas
livrarias brasileiras, ainda deixe a desejar, não faltam por aqui obras que
destrincham sua construção e importância para a evolução das artes cênicas.
Prova disso são dois lançamentos recentes em
nossas prateleiras: Stanislavski em
Processo: Um mês no campo (Editora Perspectiva) e Stanislavski Ensaia – Memórias (É Realizações).
Quem assina o primeiro é a atriz, diretora
teatral e pesquisadora do Sistema Stanislávski, Simone Shuba. Em Stanislásvi em Processo, Shuba acompanha
passo a passo a concepção da montagem de Um
Mês no Campo, peça de Ivan Turguêniev, escolhida pelo encenador russo para
apresentar, pela primeira vez, seu sistema.
A escolha pelo texto de Turguêniev não foi
aleatória. Além do profundo estudo psicológico perpetrado pelo autor para sua
concepção e os elementos sociais ali retratados, a ação se concentra no
interior de seus personagens, o que fazia com que a maneira de melhor
representar tais sentimentos e conflitos se tornasse um verdadeiro desafio. Ao
estrear, em 9 de dezembro de 1909, a peça se tornou um marco definitivo das
realizações cênicas e entrou para a história do teatro moderno.
Stanislávski em
Processo: Um Mês no Campo – Turguêniev também promove um mapeamento de autores e
artistas que cruzaram e deixaram marcas no trabalho stanislavskiano, tendo como
protagonistas nomes como Tchékhov, Meierhold, Duncan e Gordon Craig.
Já, Stanislávski
Ensaia – Memórias, de Vassili Toporkov, enquadra-se como relato contundente
sobre o processo de treinamento no Método
das Ações Físicas sob a administração de seu próprio criador. Toporkov é um
caso raro de ator convidado a fazer parte do histórico Teatro de Artes de Moscou, companhia fundada por Constantin
Stanislavski e Vladimir Niemiróvitch-Dântchenco, em 1897. Apesar de ser um ator
profissional reconhecido na época, Toporkov precisou ser retreinado pelo grande
encenador russo.
O que temos aqui é um testemunho de dentro do
processo de desconstrução do ator que ele fora para a construção do ator que
passaria a ser, a partir daquele encontro. Durante dez anos – de 1928 a 1938 –,
o ator participou intimamente dos últimos anos de Stanislásvski como diretor e
nos revela, através de suas memórias, um retrato multifacetado do gênio
criador, que inspirava seus alunos tanto quanto os levava ao desespero.
Verdadeira testemunha ocular da história, Toporkov revela aqui um mestre em
guerra constante contra os clichês e maneirismos e em busca perfeição na arte
de atuar.
Serviço:
Livros:
Stanislávski em Processo: Um Mês no Campo –
Turguêniev
Autor: Simone Shuba
Editora: Perspectiva
136 páginas
Stanislávski Ensaia – Memórias
Autor: Vassili
Toporkov
Tradução e introdução:
Diogo Moschkovich
Editora: É Realizações
256 páginas
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