A lente é cheia de som
e de fúria – Entrevista Lenise Pinheiro
Principal nome da
fotografia de palco brasileira, Lenise Pinheiro falou com a Cenário sobre sua trajetória e os
segredos de seu ofício, durante o lançamento de seu novo livro.
por César Alves
Se o teatro brasileiro contemporâneo possui uma
história iconográfica definitiva, é através do olhar de Lenise Pinheiro que ela
se revela. Fotógrafa preferida de dez entre dez profissionais das artes cênicas
– dos funcionários de bastidores aos grandes atores e atrizes e dos diretores aos
produtores, passando por dramaturgos, cenógrafos, montadores e figurinistas –,
ela acaba de lançar Fotografia de Palco
II (Edições Sesc).
A obra, que dá segmento ao projeto iniciado em
2008, com a publicação do primeiro volume, reúne registros fotográficos realizados
durante apresentações das mais importantes peças e performances cênicas
realizadas no Brasil nas últimas décadas.
Dotada de um olhar perspicaz e talento para
capturar a ação e transpor para a imagem a mesma intensidade de quem presencia
a cena no calor do momento, Lenise parece utilizar a câmera como o poeta faz
uso de sua pena, dando à fotografia de palco a mesma sensação catártica que faz
da experiência teatral arte suprema. Essa afinação, entre o poético e o
fotográfico, está evidente nas imagens que compõem os dois volumes de Fotografia de Palco e também o recente Teatro Oficina: Fotografias (Imprensa
Oficial), fruto de sua longa parceria com Zé Celso e Marcelo Drummond.
Foi entre os lançamentos de Fotografia de Palco II em São Paulo e
Rio de Janeiro (marcado para outubro, na Livraria Travessa de Ipanema), que
Lenise Pinheiro conversou com a revista Cenário
sobre sua trajetória e sua paixão pela fotografia e a pluralidade grandiosa do
teatro brasileiro.
A fotografia, como profissão
e expressão artística, sempre fez parte de sua vida? Como se deu seu primeiro
contato com a câmera?
Lenise Pinheiro: Sim. Utilizo a fotografia como
forma e comunicação desde a infância. Cobria as festividades familiares, reuniões
escolares, os presentes que ganhava e das embalagens coloridas que capturavam
minha atenção. Também era comum fotografar os animais de estimação da
vizinhança e comercializava os álbuns entre amigos, familiares e conhecidos do
bairro
A escolha do universo
teatral como principal foco de seu trabalho ocorreu de forma natural ou surgiu
da descoberta de uma paixão pelo segmento ao longo de sua inserção no meio
artístico? Conte-nos um pouco sobre como ocorreu esse processo.
Lenise Pinheiro: Sou mais a favor da palavra “trajetória”.
Ela se deu desde o início na Escola de
Arte Dramática, com o Grupo Ar Cênico à partir da montagem Laços em 1983. O diretor Odavlas Petti
foi o primeiro a fomentar em mim o desejo de seguir no Teatro. Depois veio o
ator Marco Ricca, o primeiro a me contratar. Fiz trabalhos paralelos em
empresas, produtoras e em estúdios, até foto de cirurgia, eu fiz. Isso nos
primeiros dez anos de trabalho, quando ainda eu não era conhecida. Hoje, depois
de trinta e poucos anos, estou cada vez mais animada em continuar fazendo o que
faço.
A que se deve a
conquista da liberdade para passear com desenvoltura pela intimidade, não só
dos astros e estrelas dos espetáculos, como também dos profissionais de
bastidores? Alguma vez teve problemas com equipe de produção ou artistas para
fazer um registro?
Lenise Pinheiro: Sempre fui muito bem recebida por
todos. Faço-me presente gosto de ser vista. Tento ser transparente para que o
olhar do ator perpasse a mim e meu equipamento.
Com o primeiro volume
de Fotografia de Palco ficou clara a importância de seu trabalho como histórico
iconográfico definitivo do teatro brasileiro contemporâneo. O livro, no
entanto, já deixava um gostinho de “quero mais” e o lançamento do segundo
volume não decepcionou as expectativas. Quando surgiu a idéia de dar segmento
ao projeto ou, desde o início, já havia a intenção de um segundo volume?
Lenise Pinheiro: Vivo para fotografar Teatro. Meus livros são
extensão desse trabalho. Sou responsável pelo projeto gráfico de todos eles. Afinal,
tenho também o Livro Teatro Oficina que reúne textos e fotos desde a reforma do
teatro até 2014, data que ele foi lançado. Minha parceria com o Zé Celso e com
o Marcelo Drummond inspirou a edição. Esse livro é inspirado nas iridescências
de Iris Cavalcanti, produtora das publicações de todos os meus livros e
trabalhos.
Como foi feita a
escolha das fotos e o que foi levado em conta na seleção das imagens que
ilustram as duas obras?
Lenise Pinheiro: Sombras, contrastes e muito brilho.
Levo em consideração a importância dos trabalhos, dos atores, diretores e
técnicos. Assim como a evolução das montagens. Acho muito importante valorizar
o trabalho de todos os envolvidos, pois teatro é trabalho em equipe. Cubro os
principais Festivais de Teatro. Isso faz com que a extensão da cobertura, tenha
caráter nacional. Estou de olho em todas as companhias brasileiras. Posso
afirmar que nosso teatro é plural.
"O resto...é silêncio".
Sendo seu trabalho um
constante work in progress, podemos
aguardar um possível Fotografia de Palco
III?
Lenise Pinheiro: Sim estou trabalhando no Projeto do
Fotografia de Palco III, já há algum
tempo. Meu principal foco no momento é digitalizar meu acervo analógico que
compreende o período de 1983 até 2005. Nessa fase acumulei 87 mil fotogramas,
milhares de espetáculos aguardam para entram no panteão do universo digital.
Pretendo com isso disponibilizar imagens para bancos de dados, bibliotecas,
facilitando assim o acesso das pesquisas. Estou em busca de suporte para
digitalizar essas imagens, tomara que com essa entrevista, encontre parcerias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário