segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Entrevista Lenise Pinheiro - Fotografia de Palco



A lente é cheia de som e de fúria – Entrevista Lenise Pinheiro

Principal nome da fotografia de palco brasileira, Lenise Pinheiro falou com a Cenário sobre sua trajetória e os segredos de seu ofício, durante o lançamento de seu novo livro.
por César Alves


Se o teatro brasileiro contemporâneo possui uma história iconográfica definitiva, é através do olhar de Lenise Pinheiro que ela se revela. Fotógrafa preferida de dez entre dez profissionais das artes cênicas – dos funcionários de bastidores aos grandes atores e atrizes e dos diretores aos produtores, passando por dramaturgos, cenógrafos, montadores e figurinistas –, ela acaba de lançar Fotografia de Palco II (Edições Sesc).
A obra, que dá segmento ao projeto iniciado em 2008, com a publicação do primeiro volume, reúne registros fotográficos realizados durante apresentações das mais importantes peças e performances cênicas realizadas no Brasil nas últimas décadas.
Dotada de um olhar perspicaz e talento para capturar a ação e transpor para a imagem a mesma intensidade de quem presencia a cena no calor do momento, Lenise parece utilizar a câmera como o poeta faz uso de sua pena, dando à fotografia de palco a mesma sensação catártica que faz da experiência teatral arte suprema. Essa afinação, entre o poético e o fotográfico, está evidente nas imagens que compõem os dois volumes de Fotografia de Palco e também o recente Teatro Oficina: Fotografias (Imprensa Oficial), fruto de sua longa parceria com Zé Celso e Marcelo Drummond.
Foi entre os lançamentos de Fotografia de Palco II em São Paulo e Rio de Janeiro (marcado para outubro, na Livraria Travessa de Ipanema), que Lenise Pinheiro conversou com a revista Cenário sobre sua trajetória e sua paixão pela fotografia e a pluralidade grandiosa do teatro brasileiro.

A fotografia, como profissão e expressão artística, sempre fez parte de sua vida? Como se deu seu primeiro contato com a câmera?

Lenise Pinheiro: Sim. Utilizo a fotografia como forma e comunicação desde a infância. Cobria as festividades familiares, reuniões escolares, os presentes que ganhava e das embalagens coloridas que capturavam minha atenção. Também era comum fotografar os animais de estimação da vizinhança e comercializava os álbuns entre amigos, familiares e conhecidos do bairro
A escolha do universo teatral como principal foco de seu trabalho ocorreu de forma natural ou surgiu da descoberta de uma paixão pelo segmento ao longo de sua inserção no meio artístico? Conte-nos um pouco sobre como ocorreu esse processo.

Lenise Pinheiro: Sou mais a favor da palavra “trajetória”. Ela se deu desde o início na Escola de Arte Dramática, com o Grupo Ar Cênico à partir da montagem Laços em 1983. O diretor Odavlas Petti foi o primeiro a fomentar em mim o desejo de seguir no Teatro. Depois veio o ator Marco Ricca, o primeiro a me contratar. Fiz trabalhos paralelos em empresas, produtoras e em estúdios, até foto de cirurgia, eu fiz. Isso nos primeiros dez anos de trabalho, quando ainda eu não era conhecida. Hoje, depois de trinta e poucos anos, estou cada vez mais animada em continuar fazendo o que faço.

A que se deve a conquista da liberdade para passear com desenvoltura pela intimidade, não só dos astros e estrelas dos espetáculos, como também dos profissionais de bastidores? Alguma vez teve problemas com equipe de produção ou artistas para fazer um registro?
Lenise Pinheiro: Sempre fui muito bem recebida por todos. Faço-me presente gosto de ser vista. Tento ser transparente para que o olhar do ator perpasse a mim e meu equipamento.

Com o primeiro volume de Fotografia de Palco ficou clara a importância de seu trabalho como histórico iconográfico definitivo do teatro brasileiro contemporâneo. O livro, no entanto, já deixava um gostinho de “quero mais” e o lançamento do segundo volume não decepcionou as expectativas. Quando surgiu a idéia de dar segmento ao projeto ou, desde o início, já havia a intenção de um segundo volume?
Lenise Pinheiro:  Vivo para fotografar Teatro. Meus livros são extensão desse trabalho. Sou responsável pelo projeto gráfico de todos eles. Afinal, tenho também o Livro Teatro Oficina que reúne textos e fotos desde a reforma do teatro até 2014, data que ele foi lançado. Minha parceria com o Zé Celso e com o Marcelo Drummond inspirou a edição. Esse livro é inspirado nas iridescências de Iris Cavalcanti, produtora das publicações de todos os meus livros e trabalhos.

Como foi feita a escolha das fotos e o que foi levado em conta na seleção das imagens que ilustram as duas obras?
Lenise Pinheiro: Sombras, contrastes e muito brilho. Levo em consideração a importância dos trabalhos, dos atores, diretores e técnicos. Assim como a evolução das montagens. Acho muito importante valorizar o trabalho de todos os envolvidos, pois teatro é trabalho em equipe. Cubro os principais Festivais de Teatro. Isso faz com que a extensão da cobertura, tenha caráter nacional. Estou de olho em todas as companhias brasileiras. Posso afirmar que nosso teatro é plural.  "O resto...é silêncio".


Sendo seu trabalho um constante work in progress, podemos aguardar um possível Fotografia de Palco III?
Lenise Pinheiro: Sim estou trabalhando no Projeto do Fotografia de Palco III, já há algum tempo. Meu principal foco no momento é digitalizar meu acervo analógico que compreende o período de 1983 até 2005. Nessa fase acumulei 87 mil fotogramas, milhares de espetáculos aguardam para entram no panteão do universo digital. Pretendo com isso disponibilizar imagens para bancos de dados, bibliotecas, facilitando assim o acesso das pesquisas. Estou em busca de suporte para digitalizar essas imagens, tomara que com essa entrevista, encontre parcerias.



Nenhum comentário:

Postar um comentário