Ziembinski, Aquele
Bárbaro Sotaque Polonês
Livro da pesquisadora
polonesa, Aleksandra Pluta, conta a trajetória de um dos mais importantes
encenadores do teatro moderno brasileiro.
Por César Alves
No limiar da década de 1940, circulava entre o
meio teatral brasileiro notícias sobre “a chegada de um polonês fabuloso, que
tinha todo um espetáculo dentro da cabeça antes que se fizesse o menor ensaio
ou se batesse o primeiro prego do cenário”.
O mundo amargava os tormentos da segunda guerra
mundial e, em meio às notícias trágicas e alarmantes que só um conflito de tais
proporções pode gerar pelo menos aquela era uma boa notícia. O polonês era
Zbigniew Ziembinski (1908-1978) e o espetáculo – que ensaiava e estrearia em
1943, tornando-se um marco na história do teatro moderno brasileiro – era Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues.
Publicado primeiro na Polônia em 2015, chega
agora às livrarias brasileiras, Ziembinski,
Aquele Bárbaro Sotaque Polonês, biografia assinada por Aleksandra Pluta e editada
pela Perspectiva, com tradução de Luiz Henrique Budant.
Falar sobre a importância de Ziembinski para o
teatro brasileiro e, principalmente, sobre o impacto que teve sua colaboração
com a companhia Os Comediantes e Nelson Rodrigues na concepção de nossa
modernidade cênica já foi feito tantas vezes que é quase impossível fugir do
lugar comum. Ziembinski também construiu uma trajetória muito relevante nas
telas, como ator de filmes e novelas – sucessos de audiência, como O Rebu (1975) da Rede Globo –, e, antes
de chegar ao Brasil, possuía uma sólida carreira nos palcos de seu país de
origem. É justamente ai que o livro de Pluta se destaca.
Ator e diretor, formado na Faculdade de Letras
da Universidade Jagielonska e na Escola de Arte Dramática do Teatro Municipal
de Cracóvia, Zigbniew Ziembinski atuou – como encenador e ator – em mais de 60
espetáculos das maiores companhias e com alguns dos maiores nomes do teatro
polonês, além de ter sido professor no lendário Instituto de Arte Teatral de
Varsóvia. Metade do livro é dedicada à importância do encenador para também
para o teatro e a cultura de seu país de origem.
Aqui ficamos sabendo que Ziembinski chegou a
dirigir um filme e a atuar em diversos outros produzidos na Polônia. Além de
sua célebre atuação – muito elogiada pela imprensa na época – na montagem de Verão em Nohant, de Jaroslaw Koczanowicz,
interpretando o pianista Frédéric Chopin, o livro também revela que “Zimba”,
como era carinhosamente chamado pelos amigos da classe teatral brasileira, chegou
a conhecer pessoalmente o diretor russo e influência para o teatro mundial do
século vinte, Meyerhold (1874-1940) e descreve os bastidores da estréia mundial
de Genebra, peça de Bernard Shaw que
zombava dos ditadores fascistas, Hitler, Mussolini e Franco. Verdadeiro ato de
coragem, tendo em vista que o espetáculo, que estreou em 1938, permaneceu em
cartaz cerca de quatro dias depois de a Polônia ser ocupada, no ano seguinte,
numa resistência que poderia custar – e, em alguns casos, custou – a vida dos
envolvidos.
Sobre a autora
Mestre em Jornalismo pela Università La
Sapienza em Roma, com pós-graduação em Protocolo Diplomático pela Pontificia Universidad
Católica de Chile, Eleksandra Pluta também é autora de Na onda da história. Imigração polonesa no Chile (2009), Raul Nałęcz – Małachowski Memórias de dois continentes (2012) e Andrés, uma vida em mais de 3000 filmes
(2013).
Serviço:
Ziembinski, Aquele
Bárbaro Sotaque Polonês
Autor: Aleksandra
Pluta
Tradução: Luiz
Henrique Budant
Editora Perspectiva
320 páginas
Nenhum comentário:
Postar um comentário