O Cinema no Divã
A Psicologia Vai ao
Cinema, de Skip Dine Young, explora os aspectos psicológicos da Sétima Arte.
Por César Alves
Em 1976, Travis Bickle ganhou a atenção do
público norte-americano e do mundo, promovendo um verdadeiro banho de sangue
para salvar uma adolescente do submundo na decadente Nova Iorque.
Cinco anos depois, John Hinckley Jr. também
chamou a atenção do mesmo público, ganhando a atenção dos noticiários, com sua
tentativa de assassinar o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan,
resultando em não menos violência.
Embora o objetivo de matar o chefe de estado
americano tenha fracassado, o atentado terminou com várias pessoas feridas e
Reagan atingido, sendo levado às pressas para um hospital, o que o salvou de se
tornar parte da longa lista de presidentes assassinados em pleno exercício de
mandato daquele país.
Ao contrário de Hinckley, Travis Bickle não
pertence ao mundo real. Personagem interpretado pelo, então, jovem e promissor
Robert de Niro, Bickle pertence ao imaginário cinematográfico do consagrado
diretor Martin Scorsese. Seus atos, embora nada distantes da realidade urbana
das grandes cidades – tanto naquela época quanto hoje em dia –, eram parte da
trama roteirizada para o, ainda hoje, cultuado longa metragem que catapultou
definitivamente, tanto De Niro quanto Scorsese, ao lugar que hoje ocupam entre
os grandes nomes de Hollywood, Taxi Driver.
Apesar disso, embora separados pela linha –
muito mais tênue do que imaginamos – que separa a realidade da ficção, Travis
Bickle e John Hinckley estão conectados de forma assustadora.
Fã da película de Scorsese, ele teria assistido
ao filme quinze vezes, enquanto se preparava para dar início aos seus planos.
Como se não bastasse, soube-se depois que as intenções de Hinckley não tinham
exatamente uma motivação política.
Ao contrário do que poderiam supor os Serviços
de Inteligência, a tentativa de tirar a vida de Reagan não estava ligada a um
grupo radical insatisfeito com a forma como o país vinha sendo conduzido pela
gestão Reagan. Hinckley agira sozinho e não tinha nada contra o presidente. Seu
intuito, na verdade, seria, através do atentado, chamar a atenção de Jodie
Foster, por quem o atirador sofria de uma paixão doentia e platônica. A mesma
atriz que interpretava a adolescente salva por Bickle, De Niro, no filme.
A história é o ponto de partida do livro A Psicologia Vai ao Cinema (Psychology at the Movies, título
original), de Skip Dine Young, que acaba de chegar às livrarias brasileiras
pela editora Cultrix.
Não pense o leitor, no entanto, tratar-se de
mais uma defesa teórica tresloucada, acusando a indústria cultural de
influenciar e incentivar a violência, como o caso citado na abertura do texto
pode sugerir. A obra faz um estudo da Sétima arte através de seus aspectos
psicológicos e, analisando títulos, autores e público, revela que as neuroses
cinematográficas, na verdade, refletem a neurose daqueles que as concebem,
interpretam e consomem do que o contrário.
Ph.D em Psicologia e professor da Universidade
de Hanover, em Indiana, Stephen “Skip” Dine Young possui duas outra obsessões,
além da área em que atua profissionalmente: a musica de Bob Dylan e o Cinema.
Sua pesquisa teve como foco o cinema narrativo, tanto produções consagradas por
suas qualidades técnicas, estéticas e tidas como verdadeiras obras de arte,
divisoras de águas no segmento, quanto blockbusters
comerciais e títulos B de horror e ficção-científica. Para tanto, assistiu a
diversas sessões de centenas de filmes que vão de obras como Psicose a Cisne Negro, passando por Persona,
de Bergman, e a trilogia Star Wars de
George Lucas e os mega-sucessos de Steven Spielberg.
Mas o livro não se limita a analise dos filmes
e seu impacto sobre o público. O autor também se debruça sobre o perfil
psicológico e a formação biográfica de seus realizadores, como Alfred Hitchcock
e Woody Allen, entre outros.
Carregados – em maior ou menor grau – do drama
que marca a condição humana, filmes transbordam psicologia. Talvez não seja a
toa que tanto o cinema, como arte e depois entretenimento, quanto a psicologia
e psicanálise, como ciência, tenham surgido praticamente juntos em fins do
século dezenove e tenham ambas tido tanto impacto cultural na década seguinte,
como defende o autor.
Sendo assim, o livro de Young não é exatamente
uma novidade. Desde 1916, com a publicação de The Photoplay: A Psychological Study, de Hugo Munsterberg, estudos
sobre Cinema e Psicologia são escritos. O lançamento, no entanto, não traz mais
do mesmo. Bem escrito e de fácil leitura, suas analises, tanto do conteúdo
narrativo, quanto aos recursos estéticos utilizados para expor os aspectos
psicológicos da trama ao espectador, revelam que A Psicologia Vai ao Cinema vem
para somar e enriquecer as prateleiras sobre o assunto, que ainda deve render
muito.
Serviço:
Título: A Psicologia
Vai ao Cinema
Autor: Skip Dine Young
Editora: Cultrix
Número de Páginas: 256
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