quinta-feira, 7 de julho de 2016

O Cinema no Divã – A Psicologia Vai ao Cinema



O Cinema no Divã

A Psicologia Vai ao Cinema, de Skip Dine Young, explora os aspectos psicológicos da Sétima Arte.
Por César Alves

Em 1976, Travis Bickle ganhou a atenção do público norte-americano e do mundo, promovendo um verdadeiro banho de sangue para salvar uma adolescente do submundo na decadente Nova Iorque.
Cinco anos depois, John Hinckley Jr. também chamou a atenção do mesmo público, ganhando a atenção dos noticiários, com sua tentativa de assassinar o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, resultando em não menos violência.
Embora o objetivo de matar o chefe de estado americano tenha fracassado, o atentado terminou com várias pessoas feridas e Reagan atingido, sendo levado às pressas para um hospital, o que o salvou de se tornar parte da longa lista de presidentes assassinados em pleno exercício de mandato daquele país.
Ao contrário de Hinckley, Travis Bickle não pertence ao mundo real. Personagem interpretado pelo, então, jovem e promissor Robert de Niro, Bickle pertence ao imaginário cinematográfico do consagrado diretor Martin Scorsese. Seus atos, embora nada distantes da realidade urbana das grandes cidades – tanto naquela época quanto hoje em dia –, eram parte da trama roteirizada para o, ainda hoje, cultuado longa metragem que catapultou definitivamente, tanto De Niro quanto Scorsese, ao lugar que hoje ocupam entre os grandes nomes de Hollywood, Taxi Driver.
Apesar disso, embora separados pela linha – muito mais tênue do que imaginamos – que separa a realidade da ficção, Travis Bickle e John Hinckley estão conectados de forma assustadora.
Fã da película de Scorsese, ele teria assistido ao filme quinze vezes, enquanto se preparava para dar início aos seus planos. Como se não bastasse, soube-se depois que as intenções de Hinckley não tinham exatamente uma motivação política.
Ao contrário do que poderiam supor os Serviços de Inteligência, a tentativa de tirar a vida de Reagan não estava ligada a um grupo radical insatisfeito com a forma como o país vinha sendo conduzido pela gestão Reagan. Hinckley agira sozinho e não tinha nada contra o presidente. Seu intuito, na verdade, seria, através do atentado, chamar a atenção de Jodie Foster, por quem o atirador sofria de uma paixão doentia e platônica. A mesma atriz que interpretava a adolescente salva por Bickle, De Niro, no filme.
A história é o ponto de partida do livro A Psicologia Vai ao Cinema (Psychology at the Movies, título original), de Skip Dine Young, que acaba de chegar às livrarias brasileiras pela editora Cultrix.
Não pense o leitor, no entanto, tratar-se de mais uma defesa teórica tresloucada, acusando a indústria cultural de influenciar e incentivar a violência, como o caso citado na abertura do texto pode sugerir. A obra faz um estudo da Sétima arte através de seus aspectos psicológicos e, analisando títulos, autores e público, revela que as neuroses cinematográficas, na verdade, refletem a neurose daqueles que as concebem, interpretam e consomem do que o contrário.
Ph.D em Psicologia e professor da Universidade de Hanover, em Indiana, Stephen “Skip” Dine Young possui duas outra obsessões, além da área em que atua profissionalmente: a musica de Bob Dylan e o Cinema. Sua pesquisa teve como foco o cinema narrativo, tanto produções consagradas por suas qualidades técnicas, estéticas e tidas como verdadeiras obras de arte, divisoras de águas no segmento, quanto blockbusters comerciais e títulos B de horror e ficção-científica. Para tanto, assistiu a diversas sessões de centenas de filmes que vão de obras como Psicose a Cisne Negro, passando por Persona, de Bergman, e a trilogia Star Wars de George Lucas e os mega-sucessos de Steven Spielberg.
Mas o livro não se limita a analise dos filmes e seu impacto sobre o público. O autor também se debruça sobre o perfil psicológico e a formação biográfica de seus realizadores, como Alfred Hitchcock e Woody Allen, entre outros.
Carregados – em maior ou menor grau – do drama que marca a condição humana, filmes transbordam psicologia. Talvez não seja a toa que tanto o cinema, como arte e depois entretenimento, quanto a psicologia e psicanálise, como ciência, tenham surgido praticamente juntos em fins do século dezenove e tenham ambas tido tanto impacto cultural na década seguinte, como defende o autor.
Sendo assim, o livro de Young não é exatamente uma novidade. Desde 1916, com a publicação de The Photoplay: A Psychological Study, de Hugo Munsterberg, estudos sobre Cinema e Psicologia são escritos. O lançamento, no entanto, não traz mais do mesmo. Bem escrito e de fácil leitura, suas analises, tanto do conteúdo narrativo, quanto aos recursos estéticos utilizados para expor os aspectos psicológicos da trama ao espectador, revelam que A Psicologia Vai ao Cinema vem para somar e enriquecer as prateleiras sobre o assunto, que ainda deve render muito.

Serviço:
Título: A Psicologia Vai ao Cinema
Autor: Skip Dine Young
Editora: Cultrix

Número de Páginas: 256

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