Cartas Abertas ao
Brasil
Exposição da
correspondência de Augusto Boal também revela a intimidade de um país em
transe.
Por César Alves
Em uma carta, datada de 25 de abril de 1984,
dia em que estava sendo votada a emenda constitucional pelas Diretas, a atriz
Fernanda Montenegro comenta ao amigo Augusto Boal, exilado do país desde 1971,
sua animação, reflexo da sensação de esperança de todo um povo, que, finalmente,
podia respirar aliviado, nos instantes finais de uma cruel ditadura que acabara
de completar duas décadas. A carta seria terminada mais tarde, na madrugada do
dia seguinte, por volta das duas da madrugada, ao final da votação, em tom de
decepção e tristeza: a emenda não fora aprovada e o Brasil só reconquistaria
seu direito ao voto direto para presidente cinco anos depois.
A carta de Fernanda Montenegro ao teatrólogo,
criador do Teatro do Oprimido e nome fundamental para as artes cênicas no
Brasil, Augusto Boal, é simbólica de quanto a troca de correspondências entre
os agentes culturais de um povo, mais que a intimidade deles próprios, também
traduzem a intimidade do momento histórico de todo um país. A missiva faz parte
da exposição Meus caros amigos – Augusto
Boal – Cartas do exílio que reúne parte da correspondência de Augusto Boal
(1931-2009).
Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta e
consultor de literatura do IMS, a mostra segue em cartaz na Pequena Galeria do
Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro até agosto. Além das 40 cartas – a
maior parte recebida por Boal –, estão expostos fotografias, passaportes,
alguns livros, além de leituras e depoimentos em vídeo de Chico Buarque,
Fernanda Montenegro e Cecilia Boal, viúva do teatrólogo.
Das centenas de correspondências preservadas no
acervo do Instituto Augusto Boal, foram selecionadas as cartas que tocam mais
intimamente na solidão do desterro. Entre elas, as de sua mãe, dona Albertina,
e de amigos, como Chico Buarque, Ferreira Gullar, Fernando Peixoto, Dias Gomes
e Fernanda Montenegro.
Parte desse material é apresentada ao público
pela primeira vez e, entre seus destaques, está uma carta escrita por Chico
Buarque, em 20 de julho de 1975, em que comenta a parceria entre eles para Mulheres de Atenas, composta para uma
peça de Boal nunca encenada, e uma letra ainda não finalizada para um chorinho
de Francis Hime, mais tarde batizado de Meu
caro amigo, canção que inspirou o nome da mostra.
Serviço:
Meus caros amigos –
Augusto Boal – Cartas do exílio
Local: Instituto
Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São
Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/
(21) 3206-2500
Até 21 de agosto
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