sábado, 16 de julho de 2016

Cenário Nacional (RJ) - Augusto Boal, Meus Caros Amigos – IMS



Cartas Abertas ao Brasil

Exposição da correspondência de Augusto Boal também revela a intimidade de um país em transe.
Por César Alves

Em uma carta, datada de 25 de abril de 1984, dia em que estava sendo votada a emenda constitucional pelas Diretas, a atriz Fernanda Montenegro comenta ao amigo Augusto Boal, exilado do país desde 1971, sua animação, reflexo da sensação de esperança de todo um povo, que, finalmente, podia respirar aliviado, nos instantes finais de uma cruel ditadura que acabara de completar duas décadas. A carta seria terminada mais tarde, na madrugada do dia seguinte, por volta das duas da madrugada, ao final da votação, em tom de decepção e tristeza: a emenda não fora aprovada e o Brasil só reconquistaria seu direito ao voto direto para presidente cinco anos depois.
A carta de Fernanda Montenegro ao teatrólogo, criador do Teatro do Oprimido e nome fundamental para as artes cênicas no Brasil, Augusto Boal, é simbólica de quanto a troca de correspondências entre os agentes culturais de um povo, mais que a intimidade deles próprios, também traduzem a intimidade do momento histórico de todo um país. A missiva faz parte da exposição Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio que reúne parte da correspondência de Augusto Boal (1931-2009).
Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de literatura do IMS, a mostra segue em cartaz na Pequena Galeria do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro até agosto. Além das 40 cartas – a maior parte recebida por Boal –, estão expostos fotografias, passaportes, alguns livros, além de leituras e depoimentos em vídeo de Chico Buarque, Fernanda Montenegro e Cecilia Boal, viúva do teatrólogo.
Das centenas de correspondências preservadas no acervo do Instituto Augusto Boal, foram selecionadas as cartas que tocam mais intimamente na solidão do desterro. Entre elas, as de sua mãe, dona Albertina, e de amigos, como Chico Buarque, Ferreira Gullar, Fernando Peixoto, Dias Gomes e Fernanda Montenegro.
Parte desse material é apresentada ao público pela primeira vez e, entre seus destaques, está uma carta escrita por Chico Buarque, em 20 de julho de 1975, em que comenta a parceria entre eles para Mulheres de Atenas, composta para uma peça de Boal nunca encenada, e uma letra ainda não finalizada para um chorinho de Francis Hime, mais tarde batizado de Meu caro amigo, canção que inspirou o nome da mostra.






Serviço:
Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio
Local: Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500
Até 21 de agosto



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