Caixa Cultural abre exposição
reunindo fotos recuperadas de Robert Capa, Gerda Taro e David Chim
“A Valise Mexicana”
contém imagens pouco conhecidas do período em que o fotógrafo cobriu a Guerra
Civil Espanhola.
Por César Alves
Reflexo do verdadeiro barril de pólvora em que
se encontrava a Europa no início do século passado, a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939) viria a definir as principais características que marcariam os
conflitos bélicos de então. Reunindo os principais elementos militares e
ideológicos do período, o conflito durou quase quatro anos, deixou 400 mil
mortos, arrasou a economia do país e instaurou uma ditadura fascista que
perdurou por quase 40 anos.
Sua importância, no entanto, vai além do
impacto geopolítico que deu origem à segunda grande guerra. Graças ao papel de
três fotógrafos de origem judaica, imigrantes fugitivos da perseguição nazista,
Robert Capa, sua esposa, Gerda Taro, e David “Chim” Seymor, a Guerra Civil
Espanhola também redefiniria o fotojornalismo e a própria maneira de se fazer a
cobertura jornalística de guerra.
Com o uso da câmera manual Leica 35 milímetros,
Capa, Taro, e Chim, inauguram uma nova forma de se fazer cobertura de guerra. A
maior mobilidade permitida pelo avanço das câmeras fotográficas, aliadas ao
destemor exigido para documentar zonas de guerra, levaram Robert Capa a criar a
famosa máxima: “se sua foto não está boa o suficiente, é porque você não chegou
perto o suficiente”.
No aniversário de 80 anos da eclosão do
conflito – quando o mundo parece novamente em convulsão –, os brasileiros terão
a rara oportunidade de compreender do que estamos falando, através da exposição
A Valise Mexicana: a redescoberta dos
negativos da Guerra Civil Espanhola de Capa, Taro e Chim, em cartaz na
Caixa Cultural São Paulo.
As fotos da exposição registram sequências de
batalhas, retratos de personalidades e pessoas comuns, e o devastador efeito da
guerra na sociedade espanhola. Unidos pelo engajamento contra o fascismo, cada
um dos três fotógrafos possuía um estilo diferente de cobertura.
Enquanto as fotos de Capa mostravam em geral
uma ação mais crua, ligeiramente fora de foco e geralmente com o objeto
principal fora do centro da fotografia, Chim tinha uma preocupação maior com a
vida cotidiana dos afetados pela guerra (em 1948 ele seria o primeiro fotógrafo
contratado pela Unicef para retratar as crianças européias no pós-guerra). Já
Gerda Taro procurava mostrar as mulheres envolvidas no conflito e a vida dos
soldados atrás do fronte.
Curiosamente, os três fotógrafos morreram em
circunstâncias semelhantes, documentando cenários de guerra. Gerda Taro, em
1937, atropelada acidentalmente por um tanque quando cobria a batalha de
Brunete, ainda durante a Guerra Civil Espanhola. Robert Capa faleceu em 1954,
após pisar em uma mina, na Guerra da Indochina. “Chim” Seymour perderia a vida
dois anos depois, em 1956, metralhado quando cobria a Guerra de Suez no Egito.
Robert Capa reuniu boa parte da cobertura
realizada por ele, Taro e Chim em negativos guardados em uma valise que ficou
desaparecida desde o final da guerra, em 1939. Ela poderia ter sido perdida em
meio ao caos gerado pela chegada dos alemães em Paris em 1940, onde Capa
mantinha seu estúdio. Os 4.500 negativos só foram encontrados na década de
1990, na Cidade do México, quando o cineasta Benjamin Tarver, sobrinho de
diplomata mexicano, descobriu o material, e que entregaria apenas em 2007 ao International Center of Photography,
instituto fundado por Cornell, irmão mais novo de Capa.
Serviço:
Exposição: A valise mexicana: a redescoberta dos
negativos da Guerra Civil Espanhola de Capa, Taro e Chim
CAIXA Cultural São
Paulo (Praça da Sé, 111, próximo à estação do Metrô Sé)
Abertura ao público:
23 de julho (sábado), às 14h
Visitação: de 23 de
julho a 2 de outubro de 2016, de terça-feira a domingo, das 9h às 19h
Informações: (11)
3321-4400.
Não recomendado para
menores de 10 anos
Entrada gratuita
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