sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Alfred de Musset – A confissão de um filho do século




Alfred de Musset – A confissão de um filho do século
Por César Alves

L´enfant Terrible do romantismo francês, Alfred de Musset já produzia versos aos 14 anos. Seu talento precoce não passou despercebido e logo foi aceito como o mais jovem escritor no seleto grupo de artistas do Cénacle, salão literário dirigido por Charles Nodier.
Embora a importância do convívio com os notáveis tenha tido forte impacto no jovem Musset, é justamente na maneira como o autor trata tal honraria que deixa claro sua independência criativa e indisposição para abrir concessões.
Exemplo é o episódio que marcou sua saída da confraria poética, envolvendo seu freqüentador mais famoso. Ninguém menos do que Vitor Hugo.
Contrariando seus colegas, o jovem teria se recusado a prestar homenagem ao maior dos poetas franceses, como faziam todos ali. O que, embora possa ser visto como a mais infeliz demonstração de arrogância e pretensão, não deixava de ser também um ato de autenticidade.
Tamanha ousadia bastaria para por fim à carreira de qualquer poeta, mas não à carreira de Alfred de Musset.
Aos 19 anos, já era respeitado como autor dos Contos da Espanha e Itália, Pensamentos secretos de Rafael e Votos Estéreis, demonstrando desenvoltura na composição de poemas, contos, romances e peças de teatro. Idade também em que começa a desenvolver seu gosto pelos excessos, principalmente o alcoolismo – que viria a matá-lo precocemente anos depois –, pela vida noturna e pelas mulheres.
Ao longo de sua curta existência, o Musset teve muitas paixões, mas nenhuma tão intensa quanto a que compartilhou com a poeta George Sand – Amandine Aurore Lucile Dupin, que assinava com pseudônimo masculino, posto que mulheres escritoras não eram aceitas pela sociedade e o próprio meio intelectual da época.
Dotada do mesmo espírito livre do poeta, Sand também teve muitos amantes, incluindo o compositor Frédéric Chopin, e a tórrida paixão compartilhada entre eles rendeu rompimentos e reatamentos catastróficos e dolorosos. Seu relacionamento turbulento teria sido a inspiração para que o autor escrevesse A confissão de um filho do século que, depois de muito tempo fora de catálogo, volta às livrarias brasileiras numa bela edição da editora Amarilys.
Obra claramente autobiográfica, A confissão de um filho do século foi publicada em 1836, três anos depois da primeira traição de Sand, com seu médico de confiança, quando o poeta se encontrava enfermo, e depois das diversas tentativas de reatamento, marcadas por conflitos e ataques violentos de ciúmes de ambos os lados.
Narrado em primeira pessoa, o livro conta a história de Otávio, jovem bon vivant, apaixonado pela vida, mas inexperiente quanto às incertezas dos relacionamentos amorosos e no que podem trazer de dor. Inspirado nos poetas e crente no amor idealizado e trágico que movem os heróis românticos, como o jovem Werther de Goethe, o personagem é surpreendido pela traição de sua amante com um de seus melhores amigos, a quem desafia para um duelo.
Derrotado por seu oponente na peleja com pistolas, que deveria lavar com sangue sua honra ofendida, Otávio mergulha na depressão, provocada pela vergonha e o amor que ainda nutre por sua amante, apesar da traição. É em busca de uma cura para a mistura de ódio irracional com paixão e ciúme coléricos que o personagem empreende uma jornada pelas profundezas da noite parisiense, povoada por prostitutas, poetas libertinos e orgias etílicas.
Citado, ao lado de obras como Em busca do tempo perdido de Proust, entre os principais romances de descoberta e marca de sua geração, A confissão de um filho do século é a primeira de uma trinca de livros, escritos por Musset, que versam sobre a experiência amorosa no que ela traz de sofrimento, mas também de amadurecimento ao espírito, seguida de Noites (1837) e Recordações (1841).

Serviço:
A confissão de um filho do século
Autor: Alfred de Musset
Tradução: Maria Idalina Ferreira Lopes
Editora: Amarilys
296 páginas

(Texto extraído da edição número 27 da revista Cenário que começa a circular na próxima semana)







segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Histórias da Mesa - Massimo Montanari



Casos gastronômicos saborosos

Livro de Massimo Montanari reúne histórias curiosas dos séculos XIII ao XVII sobre nosso comportamento à mesa.
Por César Alves

Na Nápoles do século XIV, durante uma refeição oferecida pelo rei Roberto I a Dante Alighieri, o monarca teria ficado espantado com o comportamento nada convencional do poeta à mesa. Rompendo com todos os protocolos de bons modos, principalmente diante de um membro da realeza, o autor de A Divina Comédia esfregava carne e vinho nas próprias vestimentas.
Em Rivotorto, por volta do ano de 1225, Francisco de Assis pretendia suplicar ao imperador que lançasse um édito geral, obrigando todos que tivessem recursos a espalhar trigo e grãos pelas ruas para que “os passarinhos e as irmãs cotovias pudessem tê-los em abundância”, como parte de sua concepção do que seria uma verdadeira ceia de Natal. Um banquete geral, no qual os pobres e os mendigos fossem saciados pelos ricos e que mesmo os animais comecem mais.
As duas histórias, aqui bem resumidas, são exemplos de alguns dos casos deliciosos e curiosos reunidos pelo historiador e pesquisador, Massimo Montanari no ótimo livro Histórias da mesa, que acaba de sair no Brasil.
Dividido em 22 capítulos, o livro traz casos – alguns verídicos, outros um tanto quanto duvidosos – pinçadas pelo autor de registros históricos que vão do século XIII ao XVII. Alguns, como os citados acima, protagonizados por celebridades históricas, outros tendo como personagens figuras anônimas.
Aqui ficamos sabendo como, durante a celebração de um casamento, os convidados foram intimados a comparecer diante dos magistrados, em até três dias, para se defender das infrações contra a “Sereníssima”, tendo como prova do crime a carne de caça na mesa e as espinhas de peixe das sobras. “Não sabeis que, nos banquetes de núpcias, é proibida a mistura de carne e peixe?” Observava a acusação.
Professor de história medieval na Universidade de Bolonha, Itália, Massimo Montanari é pesquisador gastronômico e organizador de História da Alimentação (Estação Liberdade) e O mundo na cozinha – História, identidade, trocas (Estação Liberdade e Editora Senac-SP).

Serviço:
Histórias da Mesa
Autor: Massimo Montanari
Tradução: Federico Carotti
Editora: Estação Liberdade
232 páginas


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Entrevista Lenise Pinheiro - Fotografia de Palco



A lente é cheia de som e de fúria – Entrevista Lenise Pinheiro

Principal nome da fotografia de palco brasileira, Lenise Pinheiro falou com a Cenário sobre sua trajetória e os segredos de seu ofício, durante o lançamento de seu novo livro.
por César Alves


Se o teatro brasileiro contemporâneo possui uma história iconográfica definitiva, é através do olhar de Lenise Pinheiro que ela se revela. Fotógrafa preferida de dez entre dez profissionais das artes cênicas – dos funcionários de bastidores aos grandes atores e atrizes e dos diretores aos produtores, passando por dramaturgos, cenógrafos, montadores e figurinistas –, ela acaba de lançar Fotografia de Palco II (Edições Sesc).
A obra, que dá segmento ao projeto iniciado em 2008, com a publicação do primeiro volume, reúne registros fotográficos realizados durante apresentações das mais importantes peças e performances cênicas realizadas no Brasil nas últimas décadas.
Dotada de um olhar perspicaz e talento para capturar a ação e transpor para a imagem a mesma intensidade de quem presencia a cena no calor do momento, Lenise parece utilizar a câmera como o poeta faz uso de sua pena, dando à fotografia de palco a mesma sensação catártica que faz da experiência teatral arte suprema. Essa afinação, entre o poético e o fotográfico, está evidente nas imagens que compõem os dois volumes de Fotografia de Palco e também o recente Teatro Oficina: Fotografias (Imprensa Oficial), fruto de sua longa parceria com Zé Celso e Marcelo Drummond.
Foi entre os lançamentos de Fotografia de Palco II em São Paulo e Rio de Janeiro (marcado para outubro, na Livraria Travessa de Ipanema), que Lenise Pinheiro conversou com a revista Cenário sobre sua trajetória e sua paixão pela fotografia e a pluralidade grandiosa do teatro brasileiro.

A fotografia, como profissão e expressão artística, sempre fez parte de sua vida? Como se deu seu primeiro contato com a câmera?

Lenise Pinheiro: Sim. Utilizo a fotografia como forma e comunicação desde a infância. Cobria as festividades familiares, reuniões escolares, os presentes que ganhava e das embalagens coloridas que capturavam minha atenção. Também era comum fotografar os animais de estimação da vizinhança e comercializava os álbuns entre amigos, familiares e conhecidos do bairro
A escolha do universo teatral como principal foco de seu trabalho ocorreu de forma natural ou surgiu da descoberta de uma paixão pelo segmento ao longo de sua inserção no meio artístico? Conte-nos um pouco sobre como ocorreu esse processo.

Lenise Pinheiro: Sou mais a favor da palavra “trajetória”. Ela se deu desde o início na Escola de Arte Dramática, com o Grupo Ar Cênico à partir da montagem Laços em 1983. O diretor Odavlas Petti foi o primeiro a fomentar em mim o desejo de seguir no Teatro. Depois veio o ator Marco Ricca, o primeiro a me contratar. Fiz trabalhos paralelos em empresas, produtoras e em estúdios, até foto de cirurgia, eu fiz. Isso nos primeiros dez anos de trabalho, quando ainda eu não era conhecida. Hoje, depois de trinta e poucos anos, estou cada vez mais animada em continuar fazendo o que faço.

A que se deve a conquista da liberdade para passear com desenvoltura pela intimidade, não só dos astros e estrelas dos espetáculos, como também dos profissionais de bastidores? Alguma vez teve problemas com equipe de produção ou artistas para fazer um registro?
Lenise Pinheiro: Sempre fui muito bem recebida por todos. Faço-me presente gosto de ser vista. Tento ser transparente para que o olhar do ator perpasse a mim e meu equipamento.

Com o primeiro volume de Fotografia de Palco ficou clara a importância de seu trabalho como histórico iconográfico definitivo do teatro brasileiro contemporâneo. O livro, no entanto, já deixava um gostinho de “quero mais” e o lançamento do segundo volume não decepcionou as expectativas. Quando surgiu a idéia de dar segmento ao projeto ou, desde o início, já havia a intenção de um segundo volume?
Lenise Pinheiro:  Vivo para fotografar Teatro. Meus livros são extensão desse trabalho. Sou responsável pelo projeto gráfico de todos eles. Afinal, tenho também o Livro Teatro Oficina que reúne textos e fotos desde a reforma do teatro até 2014, data que ele foi lançado. Minha parceria com o Zé Celso e com o Marcelo Drummond inspirou a edição. Esse livro é inspirado nas iridescências de Iris Cavalcanti, produtora das publicações de todos os meus livros e trabalhos.

Como foi feita a escolha das fotos e o que foi levado em conta na seleção das imagens que ilustram as duas obras?
Lenise Pinheiro: Sombras, contrastes e muito brilho. Levo em consideração a importância dos trabalhos, dos atores, diretores e técnicos. Assim como a evolução das montagens. Acho muito importante valorizar o trabalho de todos os envolvidos, pois teatro é trabalho em equipe. Cubro os principais Festivais de Teatro. Isso faz com que a extensão da cobertura, tenha caráter nacional. Estou de olho em todas as companhias brasileiras. Posso afirmar que nosso teatro é plural.  "O resto...é silêncio".


Sendo seu trabalho um constante work in progress, podemos aguardar um possível Fotografia de Palco III?
Lenise Pinheiro: Sim estou trabalhando no Projeto do Fotografia de Palco III, já há algum tempo. Meu principal foco no momento é digitalizar meu acervo analógico que compreende o período de 1983 até 2005. Nessa fase acumulei 87 mil fotogramas, milhares de espetáculos aguardam para entram no panteão do universo digital. Pretendo com isso disponibilizar imagens para bancos de dados, bibliotecas, facilitando assim o acesso das pesquisas. Estou em busca de suporte para digitalizar essas imagens, tomara que com essa entrevista, encontre parcerias.



quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Reunificação das Duas Coréias



O Amor, segundo Pommerat

Homenageado na última Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), quando apresentou os espetáculos Cendrillone e Ça ira, o autor e encenador francês Joel Pommerat costuma enxergar a dramaturgia como um corpo único, reunindo texto e encenação. Admirado por nomes como Peter Brook e Ariane Mnouchkine, entre outros, ficou conhecido dos brasileiros como o autor de Esta Criança, adaptada para nossos palcos por Marcio de Abreu em 2012.
 Depois de fazer temporada no Rio de Janeiro, A Reunificação das Duas Coréias oferece à cidade de São Paulo uma nova oportunidade de ter contato com sua obra.

Ao contrário do contexto político que o título sugere, o texto, que lhe valeu o Grand Prix de la Critique em 2013, oferece mesmo é um mergulho profundo nas turbulentas e confusas águas dos relacionamentos amorosos. Na verdade, a referência às duas Coréias vem da fala de uma das 47 personagens, protagonistas das 18 histórias que compõem a peça, montando um caleidoscópio das mais diversas relações afetivas no que elas trazem de cômico e trágico.
Dirigido por João Fonseca e produzido por Maria Siman, o elenco conta com os atores Leticia Isnard, Bianca Byington, Solange Badim, Marcelo Valle, Gustavo Machado, Verônica Debom e Reiner Tenente.


(A Reunificação das Duas Coréias – Texto: Joel Pommerat – Direção: João Fonseca - Teatro MorumbiShopping. Temporada: Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h.)

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Já está circulando a edição 26 da Cenário



Nova edição da Cenário traz Nathália Timberg na capa

Já está circulando a nova edição impressa da revista Cenário.
A capa traz a atriz Nathália Timberg, que conversou com nossa redação sobre sua carreira e a peça 33 Variações, que traduziu e estrela ao lado de Wolf Maya, também diretor da montagem.
A edição também traz entrevista com a fotógrafa Lenise Pinheiro, exposições como a 32a Bienal, artigo sobre O Sublime e o Trágico segundo Friedrich Schiller, lançamentos de livros, estréias teatrais, poemas inéditos de Clara Baccarin, Fernando Naporano e Mariana Basílio e muito mais.
A revista circula gratuitamente nos centros culturais, salas de espetáculos, saguões de hotéis, restaurantes e salas de embarque de aeroportos.

Para incluir seu estabelecimento entre os locais de distribuição, envie seus dados para:

A próxima edição sai em outubro. Sugestões de Pauta e material de divulgação devem ser enviados para:
César Alves – Redação Cenário

PARA ANUNCIAR:
Mario Eugenio
Cel. 11 99994-4897
Karlos Kamargo
Cel. 11 99320-3591
Tel.: 11 3459-1960

Para maiores informações, visite nosso site:




Do Sublime ao Trágico - Friedrich Schiller (Livro)



Friedrich Schiller – Do Sublime ao Trágico

Um dos destaques da 26ª edição da revista Cenário, lançamento da Autêntica joga luz sobre o pensamento teórico e estético de um dos maiores nomes do Romantismo alemão.
Por César Alves

Em meados do século dezoito, a beleza mostrou-se insuficiente para descrever o que faz da criação artística uma obra de arte. Mais do que os valores impressos na proporção e conveniência que convergem em delicadeza, pureza, clareza de cor, graça e elegância, a experiência estética também exigia o desafio aos sentidos, “(...) aquilo que produz a mais forte emoção que o espírito é capaz de sentir”, como descreve Edmund Burke em sua Pesquisa filosófica sobre a origem de nossas idéias do Sublime e do Belo, publicado em 1759. Assim, em reação ao Belo artístico, o conceito de Sublime ganha a atenção dos estudiosos e apreciadores das belas artes.
O Sublime, na definição de Burke, caracterizava-se por provocar em quem aprecia um quadro ou uma obra literária emoções antagônicas de admiração e terror. Tal conceito não era exatamente uma novidade, tendo em vista que já havia sido proposta, séculos antes, por Pseudo-Longino, autor de um tratado sobre o Sublime, escrito na era Alexandrina, que circulava entre intelectuais setecentistas. O autor britânico também não foi o único pensador da época a se debruçar sobre o tema e é na Crítica da faculdade de juízo (1790), de Emmanuel Kant, que as diferenças entre o Belo e Sublime são definidas com precisão.
Vem da leitura de Kant o interesse de Friedrich Schiller pelas manifestações do Sublime na arte, objeto de alguns de seus mais importantes escritos teóricos, publicados nas revistas Neue Thalia e Die Horen – em parceria com Goethe – e depois revistos nas suas obras completas. O artigo Do Sublime ao Trágico, publicado recentemente no Brasil pela editora Autêntica, está catalogado entre suas diversas e importantes contribuições para as pesquisas e estudos sobre estética.
Para o autor, assim como o é para Kant, a experiência Sublime remete à natureza e nossos instintos naturais. Ao contrário do Belo, cuja atração está ligada a um sentimento nato que nos leva ao deleite frente ao que parece agradável e organizado aos nossos olhos, o Sublime instiga nossa natureza física e racional. Diante do objeto Sublime, como seres físicos, dotados de corpos frágeis que podem ser feridos por uma avalanche ou tempestade, despertamos para nossa inferioridade frente à magnitude do mundo natural; e, como criaturas racionais, capazes de sobrepujar e alterar a natureza, experimentamos de uma liberdade que vai além dos limites.
Schiller também chama a atenção para a característica diversa do Sublime em suas representações artísticas. É possível experimentar o Sublime de forma passiva, como quando observamos o Viajante diante do mar de nuvens (1818), de Caspar David Friedrich; ou de forma direta, tomado pelas águas ameaçadoras que levam ao naufrágio a embarcação da cena pintada por William Turner em O Navio Negreiro (1840), exemplos deste que vos escreve.
Segundo ele, o distanciamento proporcionado pela reprodução em um quadro é o que faz da experiência Sublime nas artes superior a Natureza. Como no caso do segundo exemplo, quem aprecia a cena de Turner, uma vez distante do evento trágico, pode provar do horror do episódio e racionalizá-lo, o que seria impossível fazê-lo estivesse ele no lugar das vítimas ali representadas.
Ao contrário do Belo, a experiência do Sublime não seduz e sim provoca. Apela para nossos instintos de sobrevivência e autopreservação e, ao mesmo tempo, para nossa razão, o que torna o gosto pelo Sublime uma característica dos espíritos mais elevados.

Serviço:
Do Sublime ao Trágico
Autor: Friedrich Schiller
Tradução: Pedro Sussekind e Vladimir Vieira
Editora: Autêntica
128 páginas

(O artigo faz parte da edição de número 26 da revista Cenário, atualmente em circulação)

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Inutilezas - Sesc Pinheiros



Inutilezas leva a poesia de Manoel de Barros ao palco

Espetáculo contou com a benção do poeta e traz Bianca Ramoneda e Gabriel Braga Nunes.
Por César Alves


“Não estou acreditando no que vi! Um teatro verdadeiro. Não é declaração de versos. É uma representação da palavra. Com os personagens vivos e as sua contradições”, escreveu o poeta Manoel de Barros a respeito de Inutilezas, ao assistira a uma primeira versão do espetáculo que transporta sua poesia para o teatro, realizada há mais de uma década.
O poeta, morto aos 97 anos em 2014, deu carta branca e acompanhou o processo de desenvolvimento da peça, desde o início, quando foi proposto a ele pela jornalista e atriz, Bianca Ramoneda.
Representação poética que se desenvolve entre o drama e o cômico, Inutilezas é dirigido por Moacir Chaves, que se tornou célebre por transportar textos não dramáticos para o teatro. Além de Ramoneda, no palco estão um músico e o ator Gabriel Braga Nunes, interpretando, não apenas declamando, textos antológicos de Manoel de Barros como Uma didática da invenção.
O espetáculo faz curta temporada no Sesc Pinheiros.

Serviço:
Inutilezas
Direção: Moacir Chaves
Adaptação: Bianca Ramoneda
Local: Auditório do Sesc Pinheiros

Rua Paes Leme, 195 – tel. 3095-9400

Anri Sala: O momento presenta - IMS Rio de Janeiro



Anri Sala: o momento presente – Instituto Moreira Salles

Primeira grande exposição individual do albanês Anri Sala, um dos principais nomes arte contemporânea, é aberta no Rio.

Esta é a primeira apresentação ampla no Brasil do artista albanês Anri Sala (Tirana, 1974), um dos nomes mais importantes no cenário contemporâneo internacional. Trata-se de um projeto que compreende duas exposições no Instituto Moreira Salles. A primeira delas ocupa a sede do IMS do Rio de Janeiro.
As duas mostras – com listas de obras distintas, pois foram elaboradas em diálogo com as características de cada espaço – explicitam a dimensão política e ao mesmo tempo sensível da obra de Anri Sala por meio de instalações, vídeos, fotografias e objetos.
Acompanha a mostra um catálogo com textos inéditos de Heloisa Espada, Moacir dos Anjos e Natalie Bell, além da tradução de um artigo de Jacques Rancière. A publicação será lançada durante a abertura da exposição e estará à venda nos centros culturais do IMS.
A segunda exposição ocorrerá na nova sede do IMS na Avenida Paulista, no segundo semestre de 2017.

Serviço:
Anri Sala: o momento presente
Curadoria: Heloisa Espada
Evento gratuito com retirada de senhas 30 minutos antes.
Visitação: de 11 de setembro a 20 de novembro
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea

Tel.: (21) 3284-7400

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Campos de Sangue - Karen Armstrong



A Religião e a Guerra

Em Campos de Sangue, a ex-freira e especialista em civilizações e religiões antigas, Karen Armstrong traça um histórico da fé e da violência durante o processo civilizatório.
Por César Alves

Um grupo, supostamente inspirado pelas palavras de um livro sagrado, promove um atentado que deixa milhares de mortos em solo estrangeiro, habitado por aqueles que ele denomina “infiéis” e contra quem decretou uma jihad. Em resposta o líder da nação atacada, inspirado por outro livro sagrado, convoca os seus para uma investida de vingança que ele denomina cruzada.
O enredo vem se repetindo num looping através da história das civilizações e o atual cenário geopolítico mostra que tão logo não verá um fim, o que faz com que muitos vejam nas religiões o bode expiatório ou principal causa da violência através dos tempos. Mas até que ponto é correto culpar a religião pelas guerras e genocídios que temos assistido através da história?
Tentando responder ou esclarecer questões relacionadas a esta pergunta, Karen Armstrong debruçou-se sobre o tema e embarcou numa pesquisa aprofundada que deu origem ao livro Campos de Sangue, publicado recentemente no Brasil em tradução da Cia das Letras.
O resultado é um estudo esclarecedor, despido dos tradicionais preconceitos que costumam obscurecer o debate, que investiga as grandes tradições religiosas – da Mesopotâmia às civilizações modernas – em busca de respostas, e nos conduz a uma viagem pela história das maiores religiões do mundo.

Serviço:

Campos de Sangue
Autor: Karen Armstrong
Tradução: Rogério W. Galindo
Editora: Cia das Letras

560 páginas

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Aos 54 anos, morre Domingos Montagner




Aos 54 anos, morre Domingos Montagner

O ator, um dos fundadores do Grupo Lá Mínima e que vivia momento de ascensão na televisão, possuía longa trajetória ligada ao circo e ao teatro.

Arrastado pela águas do Rio São Francisco, onde nadava, durante um dos intervalos das filmagens da novela Velho Chico, morre ontem o ator Domingos Montagner, ao 54 anos.
 Apesar do sucesso tardio na TV, Montagner teve carreira longa como ator de teatro, palhaço e artista circense.  Começou no curso de interpretação de Myriam Muniz e no Circo Escola Picadeiro. Em 1997, formou, juntamente com Fernando Sampaio, em São Paulo, o Grupo La Mínima, que possui 12 espetáculos em seu repertório, incluindo, A Noite dos Palhaços Mudos, que lhe rendeu o Prêmio Shell de Melhor Ator em 2008. Na peça, escrita por Laerte, três palhaços são perseguidos por uma seita que tenta exterminá-los. Paralalemente à atuação no teatro, ele criou em 2003 o Circo Zanni, do qual foi diretor artístico.
Na televisão, Montagner estreou no seriado Mothern, do canal por assinatura GNT, em 2006. As primeiras participações na Rede Globo aconteceram quatro anos depois, nos seriados Força Tarefa, A Cura e Divã. E sua revelação como ator de novelas se dá em Cordel Encantado, de 2011, pela qual recebeu os prêmios Contigo e Melhores do Ano na categoria Ator Revelação. Outro papel de destaque na carreira de Domingos foi o do presidente Paulo Ventura, protagonista da minissérie Brado Retumbante, de 2012. Ainda atuou na novela Salve Jorge, de Glória Perez, e participou de Gonzaga - de Pai Pra Filho, seu primeiro longa-metragem.
O ator deixa a mulher, Luciana, e três filhos.


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Nathália Timberg estréia 33 Variações no Teatro Nair Bello do Shopping Frei Caneca




Nathália Timberg estréia 33 Variações no Teatro Nair Bello do Shopping Frei Caneca

Capa da edição impressa da revista Cenário, a atriz é dirigida contracena com Wolf Maya no musical que chega a São Paulo, após o sucesso de sua temporada no Rio.
Por César Alves

Impossível não notar o entusiasmo e a alegria da veterana atriz, Nathália Timberg ao falar, durante entrevista à revista Cenário, da homenagem prestada a ela por seu colega, Wolf Maya, ao inaugurar a sala que leva seu nome no Rio de Janeiro. O Teatro Nathália Timberg abriu suas portas com o espetáculo 33 Variações, texto do venezuelano Moisés Kaufman, traduzido pela própria atriz e dirigido por Maya, que estréia hoje na capital paulista.
O musical celebra uma parceria teatral de quase trinta anos, iniciada com Meu querido mentiroso (1988) e estabelecida com Paixão (1995), e também marca a volta de Wolf Maya – que também atua na peça – aos palcos de São Paulo depois de 25 anos.
A trama gira em torno da decisão do compositor Ludwig Van Beethoven de se debruçar, entre os anos de 1819 e 1823, sobre a valsa do austríaco Anton Diabelli, que daria origem às 33 Variações em sol maior, opus 120, hoje considerada síntese de sua obra e uma das mais notáveis peças para piano da música ocidental.
São duas histórias paralelas, passadas em períodos diferentes, protagonizadas por uma pesquisadora, interpretada por Timberg, na Nova York do século XX, e pelo próprio Beethoven, encarnado por Wolf Maya, na Áustria do século XIX. Ambos estão ligados, não só pelas 33 Variações, alvo da pesquisa da primeira e obra em progresso do segundo, mas também por doenças que ameaçam seus trabalhos, a pesquisadora luta contra esclerose, assim como o compositor enfrenta a surdez em progressão.
33 Variações estreou em Nova York em 2009, recebeu cinco indicações ao Tony, trazendo, no papel que agora é interpretado por Nathália Timberg, Jane Fonda.
O elenco também conta com Tadeu Aguiar, Lu Grimaldi, Flávia Pucci, Gil Coelho e Gustavo Engracia, além de oito estudantes de arte dramática oriundos da escola dirigida por Wolf Maya. Outra grata surpresa é a luxuosa interpretação das 33 Variações, realizada pela pianista Clara Sverner, convidade de Nathália Timberg, durante a execução da peça.
A entrevista com Nathália Timberg e Wolf Maya estará nas páginas da edição impressa da revista Cenário que começa a circular na segunda quinzena deste mês.

Serviço:
33 Variações
Texto: Moisés Kaufman
Tradução: Nathália Timberg
Direção: Wolf Maya
Teatro Nair Bello – Shopping Frei Caneca
Endereço: Rua Frei Caneca, 569 – Consolação
Telefone: 11 3472-2414



quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Meu Saba - Teatro Morumbi Shopping




Vencedor do Prêmio Cesgranrio de Teatro, Meu Sabá encerra temporada em São Paulo

O aperto de mãos entre o então Primeiro Ministro israelense, Yitzhak Rabin, e o líder da Organização para Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, endossado pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton, em 1993, entrou para a história como uma das imagens mais marcantes da última década do século vinte. O evento parecia acender uma fagulha de esperança para que as agressões entre Israel e Palestina, finalmente, chegassem ao fim.

O episódio terminou de forma trágica, com o assassinato de Rabin por um fundamentalista israelense que se opunha às suas idéias, em 1995.
Baseada no livro Em Nome da Dor e da Esperança, da jovem israelense Noa Ben-Artzi Pelossof, neta de Yitzhak Rabin, a atriz Clarissa Kahane criou o monólogo Meu Saba (meu avô), em parceria com Daniel Herz (diretor da peça), que encerra temporada no Teatro MorumbiShopping este fim de semana.
A montagem tem também consultoria dramatúrgica de Evelyn Disitzer. Depois de ser ovacionado em sessão única no Festival de Curitiba e fazer temporada de sucesso de público e crítica no EMC Sérgio Porto no Rio de Janeiro, o espetáculo, além de belo, merece atenção por tocar em assunto ainda hoje delicado e promover um chamado a reflexão.


Serviço:
Meu Saba
Local: Teatro MorumbiShopping
Endereço: Av. Roque Petroni Junior, 1089

Até 11 de setembro

Letícia Sabatella em Carava Tonteria



Letícia Sabatella e Arrigo Barnabé no Theatro NET

Criador de Clara Crocodilo, Arrigo Barnabé é quase sempre lembrado por sua importância dentro do movimento que fez história como a Vanguarda Paulistana. Mas o músico também é conhecido por passear com desenvoltura por outras veredas culturais como o cinema e o teatro, entre outras.
Na busca por refletir as possibilidades das artes cênicas em diálogo com outras linguagens artísticas é que surge a Caravana Tonteria, quarteto dirigido por Barnabé e liderado pela atriz Letícia Sabatella com o ator e multi-instrumentista Fernando Alves Pinto (serrote, trompete, violão e voz) e os músicos Paulo Braga (piano) e Zéli Silva (contrabaixo).
Ambientado simbolicamente em um cabaré itinerante, o show de música, com estilos heterogêneos, dialoga com a cena, garantindo um caráter mais performático à apresentação. O nome é emprestado do tango Tonteria.
Trata-se de uma trupe meio Commedia dell'Arte, saltimbancos, coloridos, circenses, maltrapilhos, como eles mesmos se denominam. Uma banda de qualidade musical e intérpretes teatrais que tem na interpretação um recurso para a música assim como a música serve à interpretação.
No repertório, canções autorais – todas compostas por Letícia Sabatella – além de criações de grandes nomes da música universal como Chico Buarque, Colle Porter, Kurt Weill, Duke Ellington e Carlos Gardel.


Serviço:

Caravana Tonteria
Local: Theatro NET São Paulo
Endereço: Shopping Vila Olímpia, 5º andar - Rua Olimpíadas, 360.
Data: 15 de setembro, quinta-feira, às 21h

Capacidade: 799 lugares

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Bienal de São Paulo foca na incerteza



Bienal de São Paulo foca na incerteza

Em sua 32ª. edição, o evento, que será aberto ao público na quarta-feira, reúne mais de 80 artistas convidados de vários países e é marcado pela forte presença feminina.
Por César Alves

Tendo como tema Incerteza Viva, a Bienal de Artes de São Paulo será aberta oficialmente ao público nesta quarta-feira. Em sua 32ª. Edição, a mostra enfoca as noções de “incerteza” e “entropia” a fim de refletir sobre as condições atuais da vida e as possibilidades oferecidas pela arte contemporânea para abrigar e habitar incertezas.
Resultado da pesquisa iniciada em março de 2015, a lista final apresenta uma seleção de participantes oriundos de 33 países e é marcada pela forte presença feminina – são mulheres mais da metade dos artistas convidados –, artistas nascidos após 1970 e de projetos comissionados, produzidos para o contexto da exposição.
A curadoria é de Jochen Volz, mas conta também com a co-curadoria de Gabi Ngcobo (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars BangLarsen (Dinamarca) e Sofía Olascoaga (México), e acontece de 07 de setembro a 12 de dezembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
A exposição, inaugurada hoje em evento fechado para a imprensa, reúne mais de 80 convidados, entre artistas e coletivos, será tema do Cenário das Artes da edição impressa da revista Cenário que circula nas próximas semanas.


Serviço:
32ª. Bienal de São Paulo – Incerteza Viva
Local: PAVILHÃO DA BIENAL • PARQUE DO IBIRAPEURA, PORTÃO 3, SÃO PAULO – SP



Antonio e Bruno Fagundes juntos no espetáculo "Vermelho"



Fagundes Pai, Filho e Mark Rothko

Ao lado do filho Bruno, Antonio Fagundes interpreta Mark Rothko no espetáculo Vermelho, em cartaz no Tuca.
Por César Alves

Dirigido por Jorge Takla, Antonio Fagundes está de volta a São Paulo com a elogiada montagem de Vermelho. Interpretando o artista plástico Mark Rothko (1903-1970), um dos maiores nomes do expressionismo abstrato, o ator contracena ao lado de seu filho, Bruno Fagundes.
Já reconhecido como grande artista de sua época, mas passando por grandes dificuldades financeiras, no final da década de 1950, Rothko teria aceitado pintar uma série de quadros que decorariam as paredes do recém-inaugurado restaurante Four Seasons, em Nova York.
Avesso ao milionário negócio dos colecionadores e a crescente visão da arte como mercado, que na época atingia seu grau máximo, a encomenda, que daria origem à sua mais celebrada série de quadros, marca um dos momentos mais intensos da biografia do artista, já sofrendo da profunda depressão que o levaria ao suicídio anos depois.
Este foi o contexto escolhido pelo dramaturgo John Logan para ambientar seu texto. A ação se passa no estúdio de Rothko, durante a criação da obra e é marcada pelos embates internos de um artista conhecido por seu perfeccionismo e deslocamento em relação ao seu próprio meio e com o jovem pintor iniciante, interpretado por Bruno Fagundes, contratado para auxiliá-lo como ajudante.
A intensidade com que Antonio Fagundes interpreta Rothko e a desenvoltura com que pai e filho contracenam juntos, além do belo texto, fazem da montagem, no mínimo, imperdível.


(Vermelho – direção: Jorge Takla – em cartaz: TUCA – Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes)


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Ivald Granato – Caixa Cultural – Brasília



Brasília recebe mostra de Ivald Granato na Caixa Cultural

Pioneiro das artes performáticas no mundo, exposição oferece um resumo de seus 50 anos de carreira.
Por César Alves

Dotado do espírito contestador das vanguardas artísticas e do ímpeto provocativo da arte experimental que rompia com as convenções nos anos 60 e 70, Ivald Granato está ao lado de nomes como Hélio Oiticica e Lýgia Pape na história da arte brasileira. Considerado pioneiro na arte performática mundial, Granato é tema da exposição Registro, Arte, Performance, em cartaz no espaço Caixa Cultural de Brasília.
A mostra, que já passou por São Paulo, faz um resumo dos 50 anos de carreira do artista, reunindo pastas-objeto, fotos originais, cartazes, roupas e acessórios usados em performances, ampliações fotográficas, livros, textos, estudos e vídeos.
O artista ganhou notoriedade internacional com suas apresentações e intervenções inesperadas realizadas em espaços públicos, que uniam pintura, musica e teatro, tendo sempre o vídeo e na fotografia como instrumento de registro. Performances como O urubu eletrônico, realizada no Theatro Municipal de São Paulo em 1976, e Mitos vadios, de 1978, se tornaram históricas.

Reunindo 130 obras de Granato, o s trabalhos mostram uma mistura de diferentes modalidades de arte – dança, música, pintura, teatro, escultura e literatura – como um desafio às classificações habituais, colocando em questão a definição de arte.


Serviço:
Ivald Granato – Registro, Arte, Performance
Local: Caixa Cultural – Brasília
Endereço: SBS – Quadra 4 – Lotes 3/4 – Brasília – DF
Até 4 de setembro.
Entrada Gratuita.





Mondrian e o Movimento De Stijl – CCBB – Belo Horizonte - MG



Mondrian e o Movimento De Stijl chega a Belo Horizonte

Depois de passar por São Paulo e Brasília é a vez de Belo Horizonte receber a exposição Mondrian e o Movimento De Stijl.
Por César Alves

Desde já entre as melhores e mais importantes mostras no calendário das artes visuais de 2016, a exposição não só celebra a obra de um dos mais importantes artistas do século XX, o holandês Piet Mondrian (1872-1944), como também um momento histórico em que artistas ousaram o sonho utópico de um novo mundo, guiados pela simplicidade plástica das formas e cores primárias, em resposta aos horrores da Primeira Guerra Mundial e a sociedade mecanizada.
Oportunidade rara de ver de perto alguns dos quadros emblemáticos de Mondrian que revolucionaram a arte moderna, fundando as bases do neoplasticismo, mas também de acompanhar a evolução criativa e estética que passa começa na figuração, flerta com o cubismo, até abandonar definitivamente toda e qualquer representação plástica realista da natureza e aderir às formas básicas das linhas, espaços e cores primárias (vermelho, azul e amarelo) e não cores (preto, branco e cinza) de uma nova abstração. A mostra reúne 30 trabalhos de Mondrian que passam por todas as fases do pintor.
Mas Mondrian não é estrela solitária a brilhar na exposição do CCBB.

Mondrian e o Movimento De Stjil também apresenta pinturas, desenhos de arquitetura, maquetes, mobiliário, documentários, publicações de época e fotografias de artistas do movimento da vanguarda moderna holandesa.
Conhecido como De Stijl (O Estilo), o movimento começou como uma revista em 1917, tendo Mondrian entre seus idealizadores, num núcleo que reunia pintores, designers e arquitetos. Esses artistas elaboravam um tipo de “arte total”, usando cores primárias para criar obras sem restrições, claras e limpas, como eles imaginavam o futuro, conforme atestam os cartazes, projetos arquitetônicos e mobiliários que também fazem parte da mostra.





Serviço:

Mondrian e o Movimento De Stjil
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Belo Horizonte
Endereço: Praça da Liberdade, 450, Funcionários
Telefone: (31) 3431-9400.
De quarta a segunda-feira, das 9h às 21h.
Até 26 de setembro.






quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Constantin Stanalislávski e a Construção do Método



A Construção do Método

Novos livros desvendam o mito Constantin Stanislavski e reafirmam sua importância no desenvolvimento do teatro moderno.
Por César Alves


Sobre Stanislavski e seu sistema, já foi dito que, no Brasil, são mais comentados do que realmente estudados e postos em prática. A razão disso, dizem os que defendem tal tese, seria o escasso material em português de sua autoria disponível nas livrarias brasileiras.
Fato ou não, se a tradução dos escritos teóricos produzidos por Constantin Stanislavski sobre seu método, disponíveis nas livrarias brasileiras, ainda deixe a desejar, não faltam por aqui obras que destrincham sua construção e importância para a evolução das artes cênicas.
Prova disso são dois lançamentos recentes em nossas prateleiras: Stanislavski em Processo: Um mês no campo (Editora Perspectiva) e Stanislavski Ensaia – Memórias (É Realizações).
Quem assina o primeiro é a atriz, diretora teatral e pesquisadora do Sistema Stanislávski, Simone Shuba. Em Stanislásvi em Processo, Shuba acompanha passo a passo a concepção da montagem de Um Mês no Campo, peça de Ivan Turguêniev, escolhida pelo encenador russo para apresentar, pela primeira vez, seu sistema.
A escolha pelo texto de Turguêniev não foi aleatória. Além do profundo estudo psicológico perpetrado pelo autor para sua concepção e os elementos sociais ali retratados, a ação se concentra no interior de seus personagens, o que fazia com que a maneira de melhor representar tais sentimentos e conflitos se tornasse um verdadeiro desafio. Ao estrear, em 9 de dezembro de 1909, a peça se tornou um marco definitivo das realizações cênicas e entrou para a história do teatro moderno.
Stanislávski em Processo: Um Mês no Campo – Turguêniev também promove um mapeamento de autores e artistas que cruzaram e deixaram marcas no trabalho stanislavskiano, tendo como protagonistas nomes como Tchékhov, Meierhold, Duncan e Gordon Craig.
Já, Stanislávski Ensaia – Memórias, de Vassili Toporkov, enquadra-se como relato contundente sobre o processo de treinamento no Método das Ações Físicas sob a administração de seu próprio criador. Toporkov é um caso raro de ator convidado a fazer parte do histórico Teatro de Artes de Moscou, companhia fundada por Constantin Stanislavski e Vladimir Niemiróvitch-Dântchenco, em 1897. Apesar de ser um ator profissional reconhecido na época, Toporkov precisou ser retreinado pelo grande encenador russo.
O que temos aqui é um testemunho de dentro do processo de desconstrução do ator que ele fora para a construção do ator que passaria a ser, a partir daquele encontro. Durante dez anos – de 1928 a 1938 –, o ator participou intimamente dos últimos anos de Stanislásvski como diretor e nos revela, através de suas memórias, um retrato multifacetado do gênio criador, que inspirava seus alunos tanto quanto os levava ao desespero. Verdadeira testemunha ocular da história, Toporkov revela aqui um mestre em guerra constante contra os clichês e maneirismos e em busca perfeição na arte de atuar.

Serviço:
Livros:
Stanislávski em Processo: Um Mês no Campo – Turguêniev
Autor: Simone Shuba
Editora: Perspectiva
136 páginas

Stanislávski Ensaia – Memórias
Autor: Vassili Toporkov
Tradução e introdução: Diogo Moschkovich
Editora: É Realizações
256 páginas